Diario

Porque me é difícil viver o mês de Janeiro?

A passagem do ano traz consigo desejos de mudança. De melhorias. De novas conquistas. Todos nós, cada um a seu jeito, celebra esta festa fazendo um balanço do ano velho e estabelecendo, na medida das possibilidades de cada um, objetivos e metas para o ano que se avizinha. Há uma alegria, uma euforia antecipada pelo Natal, de certa forma contagiante, que nos impele à mudança. Ou, pelo menos, à vontade de mudança.

Saúde, Paz e Amor aparecem como uma trilogia que encerra os desejos de todos nós.

Posto isto, considero que esta esperança renovada, que se instala com as festividades de fim de ano, devia permanecer ao longo dos restantes 365 dias, ou pelo menos, no mês de Janeiro. Constato que não. Para mim, não!!! E não me parece que seja a única a sentir o que vos descrevo. Um conjunto de “aflições” atingem o primeiro mês do ano:

O mês de Janeiro apresenta-se longo, frio, escuro, chuvoso. Com ele, chega também, salvo raras exceções, o aumento do preço de inúmeros bens de consumo sem o justo aumento salarial, destabilizando muitas famílias. Com Janeiro vem o regresso às aulas, facto que para a maioria dos estudantes, não é motivo de grande alegria. Com Janeiro vem as obrigações de fazer inventários e balanços para os estabelecimentos comerciais. E estes ainda levam com uma baixa no número de vendas, uma vez que todos gastamos em demasia nas festividades de Dezembro. enfim, Janeiro não é afinal o mês de… e adiamos mais um bocadinho os desejos da passagem do ano.

Mas para mim, há algo mais perturbador que transforma Janeiro num mês comparável ao gigante Adamastor… o avô Manel partiu em Janeiro. Sem nada evidenciar a sua presença, a morte chegou devagarinho. Primeiro, na forma de doença, depois levando-te. Para sempre. Sem aviso prévio. Janeiro traz esta memória. Tenho em mim esta capacidade que me massacra: reviver o passado como se ele estivesse agora no presente…

24 de Dezembro de 2001, último Natal do avô Manel

És tu avô que já não estás aqui para me contar histórias, para me falar do tempo e dos pássaros, para me mostrares como está a horta ou para me leres as notícias do jornal… És tu que me faltas. E faltas-me sempre, todos os dias. Mas em Janeiro, essa dor torna-se mais viva porque recordo aquele tenebroso dia.

Eu sei que tu estás do outro lado do Caminho, olhando para mim e por mim. Eu sei que sabes o percurso que tenho feito e os filhos que gerei. Eu sei que tu sabes. Mas eu só queria aquele sorriso teu, aquele abraço.

Hoje eu só queria estar contigo avô.

Por isto me é difícil viver Janeiro…

Ana

 

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