Se eu fosse uma fada e tivesse uma varinha de condão, abria os teus olhos meu Amigo para veres o meu coração. E fazia-te sonhar com histórias encantadas, muito coloridas, onde os reis e o seu povo vivem felizes com uma alegria contagiante, em reinos cheios de esperança. Sabes? Sonhar faz bem! Faz de nós humanos também!
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, tirava dos teus olhos essa névoa que teima em aparecer e te deixa triste tantas vezes. Muitas vezes. Demasiadas vezes. Mostrava-te o meu mundo. O mundo que eu acredito que pode existir. O mundo em que os Humanos são verdadeiramente Humanos. O mundo em que os humanos tem brilho no olhar. O mundo em que os humanos tem efetivamente coração.
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, enchia estas gentes de Esperança e de Amor, porque eu acredito tanto que o amor cura as nossas feridas. O amor e o perdão.
Se eu fosse uma fada mostrava-te que não vale a pena criticares tão friamente os outros humanos que passam porque não sabes o que eles carregam na Alma. Não viveste as suas dores nem trilhaste os seus caminhos. Antes ensinava-te a dar-lhes um Abraço. A dar-lhes a mão. E assim, eu sei, ajudavas esses humanos nossos irmãos. É tão fácil criticar, atirar pedras, duvidar, mas e Ser? Ser exemplo? Modelo? Ser fonte de inspiração para a mudança?
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, fazia uma magia e, esse objeto que te permite falar com todos mas te afasta daquele que está mesmo aqui ao lado, transformava-se num livro. Sim, num livro. E noutro e mais outro. E assim conhecias outras pessoas, outros mundos, novas histórias. Vias mais além. E ganhavas amigos. Tantos quantos tu quisesses.
Peço-te: Olha para mim. Fala comigo. Dá-me um abraço. Sê meu amigo.
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, parava o tempo e arranjava tempo para tu conversares comigo. E com aquele. E mais aquele também. Conversar! Sabes o que é ainda? Para quê essa pressa? Para onde corres tu assim veloz, pensando sempre no amanhã sem viver o hoje? Já olhaste bem para as nuvens? Vês como se movem devagar! Sem pressa. Sim, sem pressa! Elas sabem que vão chegar a algum lugar e, indo devagar, podem observar como estão os outros, os rios, o mar, o verde das matas. Podem contemplar o voar dos pássaros e, lá em baixo, analisar um pontinho de algo e, perplexas, questionarem o que é? O que será? Como estará? Sim, as nuvens andam devagar mas tu não… Devagar, sentindo o cheiro das coisas. Já sentiste o cheiro do amanhecer? Já ouviste um riacho a deslizar?
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, mostrava-te que é tão possível viver de outra maneira. Que é possível viver com tão menos e ver tão mais! Ver a essência das coisas, dos seres humanos, dos animais. E viver! Feliz. Com os outros. Com os demais. Diferentes, mas iguais. Diferentes, mas reais. Seres humanos tais que marcam a nossa vida para sempre.
Se eu fosse uma fada com varinha de condão, mandava vir uma chuva para lavar esta terra turbulenta. Para limpar este cheiro tão intenso de civilização desenfreada. E depois chamava o sol, claro e meigo, para fazer romper as plantas, para dar vida aos campos. E depois chamava a brisa e com ela trazia os pardais e outros animais. E tu Humano aprenderias a respeitar cada um destes pozinhos de vida. Com a minha varinha, colocava tudo no lugar. Falava-te de Música, de Pintura, de Ciências. Falava-te de História. Dos nossos reis e do que fizeram para sermos um país. Falava-te das gentes que com eles lutaram. Contava-te de como conquistamos a liberdade. Falava-te de Literatura e dos poetas, das suas fórmulas de cantar o Amor e a Paz. Falava-te das crianças e da sua alegria a brincar e dos velhos que dormem cansados num banco de rua, ansiando um abraço. Falava-te, meu amor, como o mundo está repleto de coisas boas e bonitas, de como podemos melhorá-lo, de como podemos cuidar dos outros, de como podemos ser melhores humanos. Sabes porquê? Porque se eu fosse um fada com varinha de condão, abria esse teu coração e com Amor fazia-te acreditar que melhores humanos podemos ser. Basta querer!
Como eu não sou uma fada com varinha de condão, escrevo-te estes linhas. Talvez as vejas. Talvez eu consiga tocar no teu coração…